quarta-feira, 17 de junho de 2009

A economia verde é cara

Os ambientalistas não apenas levam a extremos os perigos do aquecimento global como também minimizam os custos próprios do combate a ele.

Poucas coisas na política têm maior poder de sedução do que algo que se consegue de graça. No momento em que o Congresso americano começa a analisar a legislação de combate ao aquecimento global, os ambientalistas oferecem precisamente essa perspectiva irresistível: dizem que é possível vencer o aquecimento global a um custo praticamente nulo. Transcrevo abaixo uma declaração típica desse raciocínio, defendida pelo Fundo de Defesa Ambiental (EDF, na sigla em inglês): “Com mais ou menos US$0,10 ao dia (por pessoa), é possível resolver o problema da mudança climática, investir em um futuro movido a energia limpa e economizar bilhões em importação de petróleo”.
Parece bom demais para ser verdade, e por isso mesmo soa tão bem. A reengenharia do sistema mundial de energia é tarefa praticamente inexeqüível. Basta pensar em necessidades dos Estados Unidos em 2030. Comparadas a 2007, as projeções mostram que o país terá praticamente 25% a mais de habitantes (ou 375 milhões de pessoas), uma economia cerca de 70% maior (US$20 trilhões) e 27% a mais de veículos leves em circulação (294 milhões de carros). A demanda de energia será muito grande.
Contudo, também são previstos índices mais elevados de conservação e uso de produtos renováveis. De 2007 a 2030, o uso da energia solar crescerá 18 vezes, e o da energia eólica, seis vezes. Carros novos e caminhonetes leves serão 50% mais econômicos. As lâmpadas e as máquinas de lavar serão mais eficientes.
Mesmo assim, as emissões de CO² em 2030 deverão estar na casa dos 6,2 bilhões de toneladas métricas, ou 4% a mais do que em 2007. Só para dar um exemplo, a energia solar e eólica responderão juntas por cerca de apenas 5% da eletricidade em uso. Para atender ao projeto de lei da Câmara, as emissões de CO² deveriam ficar em torno de 3,5 bilhões de toneladas.
De acordo com o EDF e outras organizações ambientalistas, a idéia de que essa redução poderia ser posta em prática a um custo reduzido baseia-se em simulações econômicas realizadas em modelos de “equilíbrio geral”. Contudo, esses modelos são incapazes de nos dizer que configuração terá a economia daqui a dez ou vinte anos, porque supõem ou ignoram coisas como taxa de crescimento; crises financeiras e geopolíticas; grandes gargalos; inflação paralisante ou níveis de desemprego, entre outras.
A idéia de uma economia verde é vendida à custa de fantasias econômicas. Os ambientalistas não apenas levam a extremos os perigos do aquecimento global – quando discorrem, por exemplo, sobre a elevação do nível dos mares -, como também minimizam os custos e suas conseqüências. Tudo se baseia em modelos de confiabilidade incerta. Constroem-se grandes esquemas de engenharia social e econômica sobre alicerces científicos frágeis. Falta sinceridade e bom senso.

Robert J. Samuelson. Jornalista americano é colunista da Revista Newsweek
Fonte Revista Época Negócios.

Postado por Caroline Cury
Ecoando l Brasil

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